Durante a amamentação, tudo o que a mãe consome pode, direta ou indiretamente, afetar o bebê por meio do leite materno. Por isso, muitas dúvidas surgem nesse período, principalmente relacionadas à alimentação. Uma das perguntas mais frequentes é: por que não pode comer chocolate amamentando?
Embora o chocolate seja um alimento amplamente consumido e adorado por muitas pessoas, ele pode conter substâncias que não são ideais para recém-nascidos e lactentes. O consumo de chocolate durante a amamentação não é totalmente proibido, mas deve ser feito com cautela, especialmente em determinadas situações. Para entender melhor esse cuidado, é importante analisar a composição do chocolate, os seus efeitos sobre o organismo da mãe e do bebê, e as recomendações dos especialistas.
A Composição do Chocolate e Seus Efeitos na Amamentação
O chocolate, especialmente o chocolate ao leite ou o meio amargo, contém uma combinação de açúcar, gordura, leite e, principalmente, cacau. O cacau, por sua vez, possui cafeína e teobromina — duas substâncias que atuam como estimulantes no sistema nervoso central.
A teobromina é um alcaloide similar à cafeína, porém com efeitos mais suaves e duradouros. Ambas as substâncias são metabolizadas lentamente pelo organismo do bebê, o que pode causar irritabilidade, insônia, excesso de energia ou desconforto gastrointestinal. Como o sistema digestivo e neurológico do bebê ainda está em desenvolvimento, ele tem mais dificuldade em processar essas substâncias do que um adulto.
Além disso, o chocolate contém traços de outras substâncias que podem causar reações alérgicas ou sensibilidades em lactentes, como a proteína do leite (no caso de chocolates com leite) e até mesmo traços de oleaginosas, como castanhas ou amêndoas.
Cafeína e Teobromina: Os Principais Vilões
É sabido que a cafeína atravessa facilmente a barreira do leite materno. Estudos mostram que a concentração de cafeína no leite materno atinge entre 0,5% a 1,5% da dose ingerida pela mãe, o que pode parecer pouco, mas é significativo para um organismo tão pequeno como o de um recém-nascido.
Em média, um pedaço de chocolate ao leite de 30g contém cerca de 6 mg de cafeína, enquanto o chocolate amargo pode ter até 20 mg na mesma porção. A teobromina, por sua vez, está presente em quantidades ainda maiores — especialmente no chocolate mais escuro.
Por isso, mães que consomem grandes quantidades de chocolate ou combinam o alimento com outras fontes de cafeína (como café, chás ou refrigerantes) acabam somando uma carga de estimulantes que pode afetar o sono, o apetite e até o humor do bebê.
Reações Mais Comuns em Bebês de Mães que Consomem Chocolate em Excesso
As reações mais relatadas em bebês cujas mães consomem chocolate com frequência incluem:
- Agitação ou irritabilidade
- Dificuldade para dormir ou sono fragmentado
- Cólica ou desconforto abdominal
- Diarreia ou fezes mais líquidas
- Eczemas ou manchas na pele (em casos de sensibilidade alimentar)
Esses sintomas podem ser confundidos com outras causas, como refluxo ou picos de crescimento, mas o padrão costuma se repetir logo após a ingestão do chocolate pela mãe, sendo um forte indicativo de associação.
Chocolate Pode Causar Alergia no Bebê?
Embora o chocolate em si não seja um dos alérgenos mais comuns, ele pode conter ingredientes que são alérgenos clássicos — como leite, soja e oleaginosas. Se o bebê tem histórico familiar de alergias ou já apresentou reações após a mãe ingerir esses alimentos, é necessário redobrar o cuidado.
Além disso, há casos de bebês com APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca), em que a ingestão de chocolate com leite pela mãe pode provocar crises no lactente, mesmo que os traços da proteína sejam pequenos. Nestes casos, o consumo deve ser suspenso totalmente.
Existe uma Quantidade Segura de Chocolate Durante a Amamentação?
Não há um número fixo ou oficial que determine quanto chocolate é seguro durante a lactação, pois a tolerância do bebê pode variar de um caso para outro. No entanto, os especialistas costumam recomendar moderação. Pequenas porções ocasionais — como 20 a 30 gramas por dia — geralmente são bem toleradas, desde que não existam sinais de sensibilidade por parte do bebê.
Uma dica importante é observar o comportamento da criança nas horas seguintes à amamentação. Se ela dormir normalmente, estiver tranquila e sem sintomas gastrointestinais, é provável que a quantidade de chocolate ingerida pela mãe não esteja afetando negativamente.
Por outro lado, se os sintomas surgirem ou se repetirem após o consumo, é prudente reduzir ou suspender o chocolate por alguns dias e observar a resposta.
Alternativas ao Chocolate Durante a Amamentação
Para mães que desejam controlar o consumo de chocolate sem abrir mão do prazer de um doce, existem alternativas mais leves e menos estimulantes. Um exemplo é o alfarroba, um substituto natural do cacau, com sabor semelhante, mas sem cafeína ou teobromina. Ele pode ser encontrado em barrinhas, bombons e até bebidas.
Outra alternativa é o chocolate branco, que não contém cacau sólido e, portanto, tem menos cafeína. No entanto, ele é rico em gordura e açúcar, o que exige também um consumo moderado.
Considerações Finais: Moderação é a Chave
Embora não seja necessário proibir completamente o chocolate durante a amamentação, é importante lembrar que o corpo da mãe funciona como uma ponte direta entre o ambiente externo e o organismo do bebê. Tudo o que a mãe consome tem o potencial de atravessar o leite materno e causar efeitos desejados ou não.
Por isso, o consumo de chocolate amamentando deve ser moderado e consciente. Evitar exageros, escolher chocolates com menor teor de cacau e observar a reação do bebê são atitudes responsáveis que ajudam a manter a amamentação saudável para ambos.
Caso haja qualquer dúvida, sempre é recomendável conversar com um pediatra ou nutricionista especializado em amamentação. Eles poderão avaliar o caso individualmente e sugerir ajustes seguros na dieta da mãe.